O homem dito civilizado vive como um bárbaro na civilização. Faz uso das coisas quotidianas que formam a sua vida - do telemóvel à internet, do automóvel ao ar condicionado - sem as quais não saberia viver e se sentiria complemente perdido, como se essas coisas fossem dadas naturalmente.
O homem civilizado não entende os princípios da civilização, não sabe o mínimo sobre a sabedoria envolvida, sobre a genialidade e imponência criativa que lhe subjaz. Um selvagem pega na banana e come-a, sem se perguntar como é possível tal fruto. O homem civilizado faz o mesmo quando pega no telemóvel: como se fosse uma dádiva da natureza à qual tem um direito também natural.
O homem civilizado carrega nos botões para aceder a tudo o que foi concebido na sua vez e desse sentimento de poder chega a confundir “entender” com “manejar”. Porque entender genuinamente está tão fora dos seus intentos que nem a própria palavra entende.