Sinopse da história da minha vó mocinha
(Mauro Leal)
Quem aqui estará para sua história contar?
já passaram seus irmãos: Maria Felizarda, Duduca,
Cruz, e meus tios
quem poderá de suas trajetórias lembrar?
Da vó mocinha com muitas saudades e emoção vou lhes falar:
Era com seu cafuné que adormecia e no silêncio as "pratinhas" ficava a somar
pra lá quando o mês começasse a findar
num toque de mágica da sua "carçola" do fundo da mala, fazia brotar
e com suas economias o "papa" bem gostoso não deixava faltar,
era com frango d'água, (a sardinha fritinha) ou o guisado de
batata com pá sem aba molinha, no almoço e jantar
e o pãozinho com café moído na hora, o Leblon ou Capital pra nos alegrar.
Minha querida e inesquecível vovó Mocinha,
a Petronília, mulher roceira, querida, sofrida e guerreira,
que dos seus três casamentos à luz ao mundo fez brilhar:
Meus tios Emília, Almerindo, Ildo e Helena (a caçulinha),
e a minha sorridente mãezinha que neste momento ao meu redor está a olhar.
Pela noitinha minha vó mocinha não se continha,
chegava na beiradinha da cama com a cabeça branquinha,
olhos azuis turquesa brilhantes com lágrimas no rosto a rolar
para um pouco da sua difícil vida contar:
dizendo que poderia ter sido de mar de rosas,
se não fosse a amasia de seu pai,
que por vaidade e ambição, não levasse seus bens à destruição,
com impulsivos consumismos por preciosas jóias e vestes valiosas
o que a deixava em profunda angústia o seu coração de menina.
Rejeitada e esquecida sobre o parapeito da sacada do casarão,
ficava assistindo e chorando quando saíam passeando
no luxuoso e enfeitado carro de seis bois para festas nas casas de seus amigos.
Sua madrasta, com tão grande autoridade e domínio,
a seu pai controlava, embalava, atraia, iludia e convencia
para que a tornasse em uma rainha
a mais linda e exuberante mulher daquele lugarejo.
E nesta perigosa vida de prazeres e boêmias,
percebia que a sua herança caminhava para ruína
e seu futuro em uma triste história acabaria,
e o que mais temia foi o que aconteceu
seu pai, embeiçado e cego no romance com Maria Rita
se desfez de todas as riquezas,
e foi sepultado na extrema pobreza,
deserdando dos grandiosos e valiosos bens que
seriam a sua herança.