Querida morte, talvez aches estranho receber uma carta num dia como hoje. Pleno verão, sol, praia, areia, amor e tudo de bom, porém só por aquelas bandas por onde andei, aqui se chora, se odeia, se morre, aqui se luta pra existir, coisa que eu já não quero fazer... Morte estou escrevendo feliz, acreditando que me vens tirar logo deste lugar onde não nunca deveria entrar, mas também, quem poderia imaginar, a ouvir os doces cantos de minha mãe, as histórias lindas que me contava, seu sorriso permanente, tudo parecia perfeito visto á de dentro, as fotografias enviadas eram sempre coloridas, as músicas tinham alegres melodias e o sol significava alegria. Tudo isso antes de me trazer aqui, mal consigo abrir meus olhos de tão negro que é, prefiro fechar e continuar a sonhar ainda posso chorar e com ele contar. Me ponho a nadar na impureza deste mundo, pois ei que ela me vai limpar. Mas morte, tem uma coisa chamada tempo que me arrasta consigo, me estica e estica, me obrigando a crescer e ameaça-me sempre, dizendo que terei de abrir meus olhos um dia e ver o que é realmente o mundo. - Realmente?! essa palavra me assusta, por isso te escrevo enquanto ainda sou pequenino, apenas ouço, pouco vivo, sei que sinto, mas dói menos, não quero morrer gritando, quero morrer morto. Não me importa que me chamem fraco por não lutar, não serei único, quantos lutaram em 1912 e morreram naquele navio, enfim, você sabe da história, amelodia sempre toca. Apenas leia minha carta e venha mostrar-me que não és como o mentiroso do Pai Natal que nunca respondeu uma vez sequer, das muitas que lhe escrevi.
Apressa-te morte!