Atirar aos pombos milho;
alimentar estes inconstantes voadores,
tirar-lhes o ensejo da busca
e a fome.
Alimento este que os confunde
tal maná providencial
dourado e nutritivo.
Lança aos pombos,
numa tarde clara de Verão e
numa praça ampla e luminosa,
sementes de pipocas,
maçarocas despidas,
cereais vivos, amidos…
Pode a mão velha de um velho
lutar contra esse esforço generoso
e egoísta, de espalhar milho
e broa de vida?…
A selva urbana alberga estes seres,
Que só conhecem estas verdades:
Atirar o milho;
voar e comer o milho;
ser o milho.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.