Retrato de Família
Mesa posta,
o patriarca de barbas brancas
abençoa as travessas de carne,
o toicinho, torresmos,
frango, arroz de carreteiro,
feijão tropeiro, couve picada.
Após o almoço a filharada
levanta sem arrastar as cadeiras
que a bronca vem certa.
Alguns às carreiras
procuram o pomar.
Para os mais velhos a sesta
que hoje não é dia de festa
depois do descanso
o dia continua.
A faina da lavoura,
a labuta do gado,
concertar o arado,
inspecionar a cerca
que o boi de canga fugiu.
Tardinha sol se pondo,
o patriarca esperando
para orar e agradecer.
Na mesa o jantar,
virado à mineira,
legumes, verduras...
não adianta cara feia
- jiló é bom, faz bem para a saúde
não tem que gostar,
o negócio é comer.
Reclamar? Nem pensar!
Resta agradecer.
À noite a família se recolhe,
o patriarca chega à varanda
se abraça a mulher
olha as estrelas
escuta o silêncio
e agradece:
- Obrigado, meu Deus, antes que outro dia comece.
Mauro Gouvêa
Rio de Janeiro, 27/06/1984
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