O menino sentou na escada e esperou mais um pouco. Por mais que caminhasse e tivesse o aparente movimento do lá para cá, a coisa em si não se modificara. Perturbava-o, o rastro de energia que seu deslocamento em infinitos feixes dele mesmo – todos os eus que ele fora naquele movimento simples, de um ponto a outro. Impossível nos encontrarmos se buscamos um eu, ou uma entidade única que nos represente por inteiro, ou que nos dê uma fagulha de dignidade e coerência subjetiva. Engana-se quem busca um quando sempre houve, há e haverá muitos, muita gente. Quando tentas captar o instante, o eu de agora não é mais. Quem pergunta se conhece ou não, ou mesmo se aprova ou aceita conselho já é outro eu, outro ainda aquele que responde a pergunta do eu de antes e é esse fluxo sem fim. Sentou na escada e percebeu que o caminho é para cima ou para baixo, mesmo que se esgueire em um degrau específico e se quisesse descansar, deitava ali e ficava sem subir ou descer. Há nada além da escada. Para cima o caminho parece também infinito. Para baixo é como se evitasse olhar, mas sabia estar lá. O que sobe desce, mas descer não é inevitável. Nem subir. Seriam vários meninos em qualquer degrau. Se subisse ou descesse seria vários de um ponto ao outro. Conhecer-se assim é fluxo contínuo de uma eterna surpresa. O menino subiu mais um degrau.