Domingo à noite merece um poema.
Desses com gosto de vômito e cinzas de cigarro.
Desses com gosto de goza feminina.
Domingo à noite merece tristesse, blues e barbarismos.
Ah, quem me dera incorporar Manuel Bandeira,
Bukowski, algum poeta maldito,
Algum poeta desconhecido,
Quem me dera ser eu mesmo por mais um verso,
E mandar tudo pro Diabo com uma caligrafia de médium!
Mandar o amor, a paixão, as ilusões,
Livros e mais livros sobre São Foucault,
Sobre a Perestroika e os puteiros da Lapa,
Lançar tudo no inferno junto com meus sonhos não satisfeitos
E meus Deuses Desconhecidos!
Quem me dera cuspir toda essas palavras na folha
Para que sujem a superfície dela como sangue:
Sangue que não se saiba donde veio.
Sangue que não se saiba de quem veio.
Menstruação de algum anjo.
Um dia qualquer já fomos gente,
Já fomos pessoas em algum momento dessa vida trágica.
Hoje somos apenas pessoas esperando que o Domingo à noite passe,
Esperando que alguma peça grega já não nos tenha traduzido,
Que algum poeta latino já não nos tenha amaldiçoado em versos.
Nesse momento, que passa despercebido como a Lua,
Estamos aqui, esperando que o fim do mundo chegue.
Então tenhamos pressa!
Antes que a Hora Que Ninguém Sabe seja agora,
E não tenhamos bebido a saideira das saideiras!
Quem sabe a Morte, de salto alto e cabelos soltos,
Não nos acompanhe na privada gorfando o nosso último gole?