Ah ópio, ah morfina, oriente
Do meu ser, as espirais do incenso
Não me dizem a quem pertenço,
Onde o outro que está doente!
Reconheço a beleza, e também o seu fim...
E vou pela noite sem madrugada...
E embora a lua seja falcada
Bebo-lhe da luz, como cisão em mim.
Incógnito sorvo o último fresco outonal.
Grifos, algo me chama, fugaz...
E entre papoilas, rubro corpo, lilás,
Deito-me por sobre o gume virginal.
E sinto-me doente de tanto sentir.
O contrário deixa-me como à morte.
Ai, mas se esta é a desdita da sorte,
Porque me acho então a sorrir?!
E sob sedas e os tapetes persas,
Fulva espada rasga a polpa,
E o fruto ofendido jaz líquido na roupa,
Aonde se me perdem as promessas.
Ó ilhas, ó tormentos, diz-me, amada,
Por ora são só lamentos, e os dias…
Caminhavas a meu lado? Que vias
Tu deste pouco mais que nada?
Ai! a novidade do desconhecido!
Que néctar é este que me inoculei?
Estradas de onde não voltei,
Meus passos marginais e sem sentido.
Jorge HUmberto
in Saiu A Fera De Mim