Poemas : 

O velho caipira Assuero

 
O velho caipira Assuero
(Mauro Leal)

Um matuto marcegueiro, meeiro-agregado nos alqueires do meu saudoso e querido avô,
o sinhozinho Antonico Leal, em São Mateus, no Município de São Pedro, RJ.
Depois do dia na enxada, já noitinha passava troteando com o pangaré
ou até mesmo arrastando o inchado e rachado pé
pelas estradas à caminho da barraca do seu Atílio indo até à venda do seu Jairo,
para suas comprinhas fazer.
A tendinha de tudo, ficava encostada à igrejinha,
ao campo de futebol que também era pasto pra animal,
defronte ao pequeno e antigo Grupo Escolar,
lá na rua do fogo, onde o lotação lotado corria batendo a lataria
e levantando nuvem de poeira e fumaça negra, sinalizando sua passagem,
e seguia deixando a entrada da macega de São Mateus, cruzando o bairro da Cruz e o trevo das Três Vendas,
com parada final no Pau rachado, próximo à curva do vento.
Lugares humildes de casinhas de taipas de sopapos, panelas de barro,
galinha caipira com alfavaca e urucu, traíra, acará, mussum,
caruru, mortadela frita, angu, farinha, guando/feijão, carne seca, são as refeições,
o gás é a lenha, os aipins, as batatas doces, e as bananas assadas nas brasas, os pães,
a rapadura o açúcar, os banheiros os matos
e as embiras de bananeiras as limpadeiras.

Sem se desfazer do seu chapéu de palha surrado,
da camisa batida, da calça pelo meio das canelas torcidas
e do ferramental no jacá sobre o lombo do castanho jacarandá,
e com seu semblante abatido e curtido pelo sol no roçado,
chegava ao secos e malhados único do povoado, e apressado,
estendia e rodava o chapéu, e com boa noti, cumprimentava,
e bem rapidinho e com pouco sorriso já a sua lista pedia:
seu Jaro, tiem farinia?
- tiem.
tiem feijão, jaro?
- tiem,
tiem fubá?
- tiem,
Eu quero tiambém um pedacinio de carne seca, uma esteira pra di noti se esticar, mortandiela e
um lito de querusene pra encher o fogãozinio, a lamparinia e o lampião.
Jaro, você tiem esse tudão?
- tiem, seu Assuero!
seu Jaro, tiem pão, tiem broa, sabão di pedra, bulacha e macarrão?
- tiem,
Você tiem mantiega, Jaro?
- tiem,
entião quano chegar em casa já vou já empetiecar os pão na mantiega,
é isso mesmo vou pegar o pãozinio lascar e brear e mandiar pra dientro.

Olha Jaro! pra hoje basta, agora a régua passa, mas é pra escrever no cadierno,
que diespois no final do megi quando o seu Antonico me dá o meu
eu vem cá te acertar o teu,
Ah, eu também estou precisado de um chapéu de paia desse aqui,
e já vô chegano já, porque é o vento sudoeste que está entrano e o tempo passano e cada vez mais rim ficano,
e quando a friagi vem com esse vento soprano forte de lá debaixo das banda do Rio,
é ele, o sudoeste bateno,
e é cirtinho, é batata, a chuva pra essas bandas aqui de cima não desmorar despencar,
e eu já vou querer está em casa, quano começar já o relâmpo e trovão destrondar e começar a chuva arrear
pra eu e os meu embruiu não moia,
então já me vou, inté manhã, assim despedia dos peões que estavam a prosear
com as caras inchadas e empanturradas de tanto pingunçar,
e com as pernas bambeando, ziguezagueava, cavaco catava,
e por entre a cachorrada cambalhotava
pra lá e pra cá a ponto de se acabar.

 
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MauroLeal
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