O dia dia de um baiano-cabofriense, andarilho inútil
(Mauro Leal)
Um formigueiro sobre o bolorento colchão o coloca em rota de fuga,
com a lata amassada, chinelos trocados, bafos de pinga e de bode,
bigode trançado, queixo babado, zangado com a velha-mula-manca-caduca-caolha
que baba, relincha e bufa o perfumado e envenenado urubu empanado
e a requentada revolucionária buchada da noite passada,
e como zumbi, zanzeia, zureta sem eira e nem beira
pela Joaquim Nogueira, Parque Burle, Dunas, Malibú, Praça das Águas
e na sombra dos coqueirais sob a ponte do Canal Azul, o lindo Itajurú,
com "latoneti" a girar, girar, girar, para pescar:
carapicu, xererete, robalete, baiacu, cocoroca e maria da toca.
e com puça pra cerca o furioso sirizinho cambalhotando na transparente correnteza.
Com o bolso furado, camisa do "mengão" enrolada na mão, faz de conta animado,
e de passos sincronizados com o matuto borrado, sai disfarçado a cantarolar:
“ciranda, cirandinha vamos todos cirandar, vamos da a meia volta, tem latinhas pra catar”
"se essa rua se essa rua fosse minha, eu mandava eu mandava ela brilhar e às dunas fiscalizar pra preservar",
trocadilhando a cultura fútil e inútil no sereno, no vento, na chuva
e quando calor, chora seu pé inchado e rachado com odor de maresia da salina esquecida.
E a galera se diverte aos risos pelos “micos” que vive a pagar:
- quando o sanhaço sem rabo, borrifa da banheira,
e o faz bocejando do pequeno assento, de banda saltar,
- pelas tomadas de baforadas que engasga e faz endoidar e do tamborete zarpar,
- como sósia de Mahatma Gandhi com cana na cuca, cata-cavaco e focinho ao chão esfregar,
- borrando a bermuda na borracharia "sujismunda" do Antonio portuga,
- mesmo sendo fujão, fica doidão, vendo sua pelanca com câimbra,
servindo cafezinhos com requebradinhos,
- saindo de fininho pra o bar da lúcia, o vizinho, quando a débil-banguela do gajo-careca
da sacada esbraveja, enfurece, desce, roda a baiana e a esquina estremece,
- Também exaltam de espião parasita do rachado-sertão com feição de magro cão, quando ao meio-dia, espreguiçando as costelas de barriga vazia vai pra o paredão
a espera do grito de guerra com o abanar das mãos anunciando o "Light Cardápio Campeão":
se foi a diarista "mineirinha": angu com couve e pé de galinha ou
a esperada da arretada "baianinha": tripa de leitão com pirão, dendê, pimenta e molho no pão,
buchada não.