Acordei,
de um longo sonho
alguns diriam:
pesadelo.
Levantei,
mais cedo
do que de costume
me ocorre.
Pensei,
na mensagem
que esse sonho
me trouxe.
"Estava sereno,
ao receber a notícia fatal
de um diagnóstico
de um mal terminal"
O médico logo
me disse,
[aliás, como não conseguem
disfarçar e por dever de ofício]
"Você sabe,
na melhor das hipóteses..."
Antes que ele terminasse
e o veredicto final
me anunciasse
De súbito indaguei:
"Dr. afinal
quanto tempo tenho?"
Ao que ele retrucou:
"Pelas evidências científicas
[Elas, sempre elas que tanto
citei em minhas aulas]
o senhor tem 6 meses".
Ousei,
Antes de despertar,
de abstrair-me
e pensar no que poderia:
Em seis meses de vida
O que faria?
Quimioterapia
o tempo prolongaria,
em uma batalha perdida
correndo contra o relógio
Ou não faria?
Dúvida cruel,
Há sempre
uma ponta de esperança
mas se o câncer é terminal
porque iria refugiar-me em uma trincheira?
Questões éticas,
morais,
valorativas,
nesta hora afloram.
Como médico,
cuidador e defensor da vida,
do primeiro sopro ao último suspiro
me via na encruzilhada do ser ou não ser?
Antes que a luz
dos primeiros raios matutinos
me despertasse do sonho [ou pesadelo]
ainda tive tempo de fazer a escolha
Então, ouvindo adágio
de Albinoni na sala de espera,
disse para a secretária
"diga ao doutor que vou viver
como nunca ousei fazer antes,
a minha terapia será de vida,
enviarei um postal..."
"ah, agradeça e diga também que levarei
os remédios para a dor física
mas buscarei ao longo da caminhada
aqueles para a elevação espiritual".
Acordei, suando,
estranhamente feliz,
estava tão excitado em viajar
que este sonho despertou em mim:
Então, disse:
Não vou esperar um aviso,
Um sinal de um sonho,
A hora de viver é agora,
Amanhã estou fora
[literalmente fora,
se não estiver na hora,
de fazer o que precisa
ser feito, viver a vida!]
AjAraújo, o poeta humanista, escrito a propósito de um sonho (pesadelo) ocorrido nos últimos dias. Escrito em 14-Abr-2012.