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Epístola aos poetas que virão (Manuel Scorza)

 
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Talvez amanhã os poetas perguntem
por que não celebramos a graciosidade das garotas;
Quiçá amanhã os poetas perguntem
por que nossos poemas
eram largas avenidas por onde vinha a cólera ardente.

Eu respondo: por todas as partes se ouvia pranto,
por todas as partes nos cercava um muro de ondas negras.
Seria a poesia
um solitário filete de orvalho?

Tinha que ser um relâmpago perpétuo.

Eu vos digo:
enquanto alguém padeça,
a rosa não poderá ser bela;
Enquanto alguém olhe o pão com inveja,
o trigo não poderá dormir;
Enquanto os mendigos chorem de frio na noite,
meu coração não sorrirá.

Mate a tristeza, poeta.
Matemos a tristeza com um pau.
Há coisas mais altas
que chorar o amor de tardes perdidas:
o rumor de um povo que desperta,
isso é mais belo que o orvalho.
O metal resplandescente de sua cólera,
isso é mais belo que a lua.
Um homem verdadeiramente livre,
Isso é mais belo que o diamante.

Porque o homem despertou,
e o fogo fugiu de sua prisão de cinzas
para queimar o mundo onde esteve a tristeza.

Manuel Scorza (1928-1983), poeta peruano.
 
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AjAraujo
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Enviado por Tópico
HelenDeRose
Publicado: 13/04/2012 14:25  Atualizado: 13/04/2012 14:25
Usuário desde: 06/08/2009
Localidade: Sorocaba - SP - Brasil
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 Re: Epístola aos poetas que virão (Manuel Scorza)
Olá AjAraujo, não conhecia este autor. Agradeço por compartilhar. Vou fazer uma pesquisa sobre ele. Gostei de ler.

Helen.