Bateu-me a morte à porta
e eu abri…
Lá fui com ela,
doente,
em convulsões.
Lá fui com ela desamparada e só;
longo era o túnel
estreito
escuro
frio
e lá no fundo,
como o dia a nascer,
havia um sol
aurora boreal…
suspensa sobre um rio.
Ficava o corpo nu
e a alma estarrecida,
lutava em brasa,
entre a morte e a vida,
enfeitiçada por essa luz
que me chamava
e ria.
Surgiam rostos
de formas destorcidas,
frio e calor,
canções, suspiros, palavras, orações,
até gemidos…
Deixei para trás o corpo…
e lá fui baloiçada
em direcção à luz…
Mas,
atrás de mim,
havia braços
grandes laços
que prendiam
e atavam ao chão a minha alma.
Sentia o gelo
o peso
e a lisura
da pedra tumular.
Era um corpo sem forma
e sem textura
a boiar… a boiar…
Ao atingir a meta,
na luz do túnel longo,
alguém gritou por mim,
mas, não falei.
Tanta gente, tanto choro
à minha porta
E eu dizia à alma
«não estou morta»,
por favor, não me enterrem
que estou viva,
só quero apenas
encontrar o corpo que perdi…
Se era a Luz de Deus
que me chamava,
então, eu não quis ir…
Só me cansava.
Houve um dia
em que a luz do Túnel
se apagou.
Abri os olhos: “- quem sou eu?
quem sou?”
Não via nada.
O corpo não mexia.
Mas, a minha alma ciciava:
«estás viva!».
E, juntas de novo,
iniciámos a jornada
ao encontro da vida.
Hoje,
se me perguntam,
se sei o que é a morte,
eu digo que a morte não existe;
a morte é a Luz daquele túnel
cheio de brilho e vida…
É colocar
a nossa alma cansada e dolorida,
sem medo e sem adeus,
nas mãos de Deus.
Inédito – Maria Helena Amaro
Braga – Novembro, 2009
http://mariahelenaamaro.blogspot.pt/2012/04/nas-maos-de-deus.html
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