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Meus versos vão revoltos… (Jose Martí)

 
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Meus versos vão revoltos e acesos
como meu coração: bom é que corra
manso o arroio que em fácil plano
entre gramas frescas desliza:
Ai!; mas a água que do monte vem
arrebatada; que por fundas fendas
desce, destroçada; que em sedentos
pedregulhos tropeça, e entre rudes
troncos salta em quebrados borbotões,
Como, despedaçada, poderá logo
qual cão de salão, jorrar submissa
no jardím podado com as flores,
ou em aquário de ouro ondear alegre
para o querer de damas cheirosas?

Inundará o palácio perfumado,
como profanação: entrará como fera
pelos brilhantes gabinetes, onde
os bardos, lindos como abades, fiam
tenras quintilhas* e rimas doces
com agulha de prata em branca seda.
E sobre seus divãs espantadas
as senhoras, os pés de meia suave
recolherão, – enquanto a água turva,
falsa, como tudo o que expira,
beija humilde o chapín** abandonado,
e em bruscos saltos alterada morre!

José Martí, poeta e revolucionário cubano.
*: forma poética de 5 versos
**: calçado exótico, típico da nobreza
Imagem: Estátua de Jose Martí em Havana.
 
Autor
AjAraujo
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