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sopas de cavalo cansado

 
Olhai que o meu povo anda doído
e sente essa mesma dor tão calado,
estranho é esse silêncio, sentido,
pior que o mais profundo brado.

Olhai a minha gente sem amparo,
vede como triste teme o futuro,
a magia e a ilusão são caso raro,
desiludidos num beco magro, escuro.

Reparai os meus pares tão sós,
números primos tão singulares,
escondidos, famintos, sem voz,
andam assim aos vários milhares.

Nota-se que anda uma onda vazia,
atraida pela crise, pela pobreza,
um sem fim de sombras e maresia
naufragrando em mágoa e incerteza.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
HelenDeRose
Publicado: 02/04/2012 21:53  Atualizado: 02/04/2012 21:53
Usuário desde: 06/08/2009
Localidade: Sorocaba - SP - Brasil
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 Re: sopas de cavalo cansado
Essa onda vazia é uma preocupação para todos nós, Rogério. Os seus versos observam uma realidade quase sem volta.

Tomara que este quase, vingue.

Helen.