Mesmo com tevê moderna – Lizaldo Vieira
LED
PLASMA
Ou LCD
Satélite
Bisbilhotando a terra
Não abro mão
Da simplicidade
Do meu torrão
Ser lá do fim do mundo
Dos cafundó de judas
Com certeza
Tem seu lugar
No território sergipano
Coisas inimaginaria na vida urbana
Por aqui
Ainda faz grande diferença
Dormir no teeiro
Beber água na cuia
Comer o mel
Lambendo os dedos
Colher pimenta magueta
Do pé
Beber caldo de caboje
Desde quando
Homens e mulheres
Não perderam a crença
Nas pedras de sal
Na santa cruz
No pelo sinal
Na lua boa de plantar
De colher
Nesses tempos de globalização
Pra manés
José e bastião
Por aqui
Tem vez não
Meu sertão inda respira coisa de pura fidelidade
As raízes são respeitadas
Veneradas
Com fevor ao divino
Rezas que espanta o fogo selvagem
Olho gordo
Praga de urubu
Espinhela caída
Dor nos ossos
Na cabeça
No percoço
Reza de santo forte
Num tá nem cá gota
Do tinhoso num sair
No meu gipão inda se vê
Mulher parir em casa
Fogo corredor rasgando a estrada
Mula de padre mijando fogo
Menino enterrado
Em cruz de beira de estrada
Homem do mato enganando cavalo
Lobisomem da lua cheia
Cavando casco de caranguejo
No quintal
Bicho caipóra
Fazendo estripolia
Coisas espontâneas ligando o céu e aterra
Pura vocação de fiéis
Ainda possível de rever
Viúvas de preto
Benzedeira tragando lasca de fumo
Curando frieira
Mulheres de Luto fechado
Da cabeça aos pés
Jurando por deus
Com muita fé
No quintal
Nas primeiras chuvas
Inda se planta
Milho no dia de são José
Uma tradição
Que se pôe de pé
Não tem perdão
São coisas de fazer inveja
Aos mais temíveis
Incrédulos
Verdadeiro viajar no tempo
Pelas imagens e crendices
Do imaginário popular
Aqui
Nesses rincões
O dia tem mais
De passar
O dialogo da fé
E com a cruz
Ajoelhado
Pedindo perdão
Pelo mau feito
Rogar proteção aos santos da devoção
Padrinho Cicero
Frei Damião
Nossa senhora da purificação
Um apelo aos bons espíritos
Mais um pedido
Pela cidadezinha
Pra fazer chover logo
Se for bem atendido
Pagador de promessa
Tá de prontidão
Na mesma moeda
Da graça recebida
Tudo é devoção
Naqueles sertões
Nas terras de reis
Rei Luiz
Rei Virgulino
Ah velho lua....
Quanta saudade
Cabras da peste
FILHOS DO NORDESTE
Tudo lembra chita
Maria Bonita
Rebanho de bode
Leite de cabra
Gente brava
Da boa
Povo tímido
Tinhoso
Bando de lampião
Não leva desafora pra casa
Que move e remove
Terra árida
Dura
Cruel
Contudo
Coração VALENTE
Por isso
Tem gente castigada
No angico
Memoria triste
Que resiste
Ao coronelismo
E banditismo
Ainda que disfarçado
Quem morreu
Morreu
Tá enterrado
Cabeça arrancada
Enterrda na beira da estrada
Virando santa cruz
Muito anjinho tá ali
Nos sete palmos
Que lhes cabem
Nesses latifúndios
Ao passar
Senti coisa estranha
Arrepiar o cabelo
De tirar o chapéu
Tem jeito não
A saída mesmo é se benzer
Sem olhar pra trás
FAZER o sinal da cruz
Faz tudo lembrar
O triste fim
Da alma penada
Na beira de estrada
Tem coisa pior
Nem cemitério ter direito
Tudo isso
Muito dói no coração
De quem fica
Refletindo feito espelho
Tão triste partida
Vida tão sedo tragada
Terra de arigó
O DNA de um povo
TRABALHADOR
Que gira mundo que nem asa branca
Mais a simplicidade não falha
Pura lição e sabedoria
A ensinar
Verdades
Hoje ignoradas
Preciso ter corpo fechado
A alma encaminhada aos céus
O coração preparado
Ao avança do mundo
Imundo
Que se dane Orkut
Face book
Computador
Quero mais
É minha conversa da boa
Verdadeira
Tragando cigarro de palha
Vovó zizinha
Rezando o terço
Vem do terço
Boto toda fé
Em Maria e José
Com seu filho Jesus
Ainda nos tempos de hoje
Pregado na cruz
Por causa de nós
Q U E S E D A N E C U S T O d e V I D A - Lizaldo Vieira
Meu deus
Tá danado
É todo santo dia
O mesmo recado
La vem o noticiário
Com a
estória das bolsas
Do que sobe e desce no mercado
De Tóquio
Nasdaq
São paulo
É dólar que aume...