De olhar ardente, esgotado,
Segue pela rua abaixo a figura do pintor.
Corcovado,
o torto ombro arqueado,
assina-lhe a silhueta inconfundível
no contra luz de néon branco do café.
Parou.
Acendeu outro cigarro.
De onde está, não me vê
mas sinto-lhe o olhar
a existir dentro de mim.
Não respiro.
Assim ficámos, suspensos um do outro,
enquanto os nossos mundos se tocavam, em ânsias…
Arde-me o peito,
em brasa como a chama do cigarro que ele esmaga no passeio com o pé, por fim.
Silêncio, na rua onde a noite se escondia.
Se falasse, diria que nada viu.
MRLEAL – 23.03.2012
Incipit...