Oh, quem me dera embalado
Nesse berço vaporoso,
Nuvens do céu azulado...
Onde os meus olhos repouso
Já de tanto olhar cansado!
De tanto olhar à procura
De um bem que o fosse deveras;
De uma paz, de uma ventura
Dessas venturas sinceras,
Se as pode haver sem mistura.
Mas há, sem dúvida: creio
Neste desejo entranhável!
Há-de haver um rosto, um seio
De amor e gozo inefável
Donde mesmo este amor veio!
Este amor que a vós me prende,
Nuvens do céu azulado!
E a vós, lâmpadas que acende
Depois do Sol apagado
Quem... de Quem tudo depende!
João de Deus, poeta, pedagogo português (1830-1896), in 'Campo de Flores'.