Aqui,
curto minhas dores
encurto a distância
entre o "eu" exterior
e o "in" interior
Aqui,
sinto minhas flores
no jardim de minha frente
no pomar de minha mente
Aqui,
apago minhas chamas
no incêndio de minh´alma
no bálsamo pra minhas chagas
Aqui,
depuro minhas lágrimas
nos córregos de minha retina
nos igarapés de minhas artérias
Aqui,
sou um pouco para dentro
estou um pouco para fora
a mesma onda que chega, leva
Aqui,
como um mar imenso,
busca a costa
pra sair da solidão
Aqui,
me encontro ora em marés altas,
ora me recolho em marés baixas,
aviso aos navegantes, acenda o farol
Aqui
buscando o porto
andando na plataforma torto
pra adentrar o barco do tempo
Aqui
ouço o eco abafado
do meu próprio silêncio
no ritmo da inspiração, da expiração
Aqui
trago o ar da existência
e canto a vida e a poesia
e mergulho na paz da escrita
Aqui
em meio a melancolia
levanto com as mãos a terra
do jardim e planto uma roseira
Aqui
em meio a tanta tristeza
ouço o chamado da brisa
não vejo, mas sinto o aroma
Aqui
nas rimas soltas
nas feridas expostas
nas chamas apagadas
Aqui
quem canta, não espanta
nem males, ou marés,
somente canta porque ama
Aqui
este amor à natureza
da vida plena, não só de aparências
dotada de uma certa humaneza
Aqui
me permito ousar
quiçá desafiar
regras, dogmas
Aqui
na busca da utopia
que re-nasce a cada dia
na raiz de uma dália
Aqui
sento-me ao banco
na sombra do arvoredo
em um cantinho do cerebelo.
AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 21 de março de 2012.