Ela já começara a pressentir: pequenos esquecimentos; ligações que não retornavam; o dormir sem o “boa noite”. E outros pequenos sinais que foram aos poucos fazendo sentido.
Pequenos sinais. Já anunciavam uma tempestade a vista. Mas ela preferiu ignorar “não, não é nada. Amanhã já terá tudo passado”. Só que o amanhã quando chegava trazia mais pequenos sinais. Era para ela ter percebido.
Juras de amor: para onde foram? Primeiro beijo: já esquecido. O abraço apertado: tão fraco agora que quase não se tocavam. Os poemas quase diariamente: agora nem ao menos pequenos recados. As ligações falando “eu te amo”: agora raramente uma ligação é atendida.
Pequenos sinais que foram aparecendo aos poucos com o tempo e que ela talvez tenha preferido ignorar.
As longas conversas, as risadas juntos, os jantares aconchegantes, tudo parou e não foi de repente. Era para ter notado.
Agora chora porque não quer ter certeza de que tudo acabou. Chora porque talvez seja tarde demais para se reencontrarem. Chora por culpa, por medo, por amor que ainda sente.
Ele a escolheu para amar e também para fazer sofrer. Foi escolhida para o bem e para o mal.
Ela não quis ver, mas mesmo sabendo o que estava acontecendo, aceitou tudo resignadamente como se tudo fizesse parte de um acordo: “faça tudo o que quiser que eu concordo em sofrer, só não me deixe”
Só existe o silêncio entre eles. Um silêncio perturbador porque nenhum dos dois tem coragem de emitir um som, como se qualquer palavra pudesse determinar o fim.
Ela gostaria de gritar que não precisa dele para nada, pode viver muito bem sem ele. Ele não é mais a razão da sua felicidade. Mas não grita e nem fala nada porque ela gostaria de ser feliz com ele.
Ela já começara a pressentir: pequenos esquecimentos; ligações que não retornavam; o dormir sem o “boa noite”.