[i]Triste canastrice
Sou um ator
atordoado
com os papéis que represento
com os papéis que escrevo
com os papéis que lanço ao vento
com os papéis com os quais seco meu lamento.
Sou um ator
perdido em cena
que encena a própria vida
que se vende por um prato de comida
que encarna o Cristo
e a Madalena Arrependida.
Sou um ator
e com minha dor
nem sei se existo.
Sou um ator
e insisto com meus personagens
que mergulha em miragens
que aceita qualquer bobagem
que faz suas micagens
para uma platéia vazia.
Sou um ator
atordoado com as luzes da ribalta
com a noite que se faz alta
com o cenário que me faz falta.
Sou um ator
que se cala
sem saber a próxima fala
que assiste a si mesmo
ensimesmado na ante-sala.
Sou um ator
daqueles que morre no fim
suicida com balas de festim.
Sou um ator
que se doa
que se dói
que se rói
por coisa à toa.
Sou um ator
que perdeu o próprio rumo
que se viu sem prumo
que se vê abandonado
sozinho no tablado.
Sou um ator
que interpreta a esmo
o papel de si mesmo.
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