O relógio assinala a uma da madrugada – ao teu lado o tempo jamais teve tempo. Só, estendido sobre esta cama despida do teu corpo, interrogo-me se já terás adormecido, sobre a alva tela do leito que te acolhe. Então, perco-me a contemplar a serenidade na luminescência que emanas, no desabrochar do sorriso aos teus lábios, durante o sono. Fascinado, penetro lentamente sob os lençóis que te vestem, deito o teu rosto no meu peito e abandono os meus dedos ao caminho dos teus longos cabelos negros, respirando o teu cheiro que me envolve os sentidos e inebria. Invade-me uma harmonia transcendente à plenitude dos nossos corpos em abraço. Ao resplandecer da aurora, em que a luz te beija a pele por dentro, desprende-se-me da alma o etéreo murmúrio que aflui aos lábios – amo-te.
O relógio já assinala as nove da manhã, a cama continua vazia do teu corpo, mas em mim vives na incandescência da chama eterna.