A moça que vai passando aqui na rua, procura, revira, revive e embaralha história, colecionando incidentes que nem dela são. O curto segundo em que ela se olha na minha janela, damo-nos conta uma da outra. No reflexo dos olhos da moça, faz-se perceber os meus, e tenho agora o vidro refletindo a paisagem habitual, o nada, ou eu.
O mormaço define o humor das coisas. A vida reinventando-se ali fora e em mim. Ou talvez seja uma eterna repetição de algumas já esquecidas verdades. Porque, no fundo, a gente sempre sabe o que é real, por mais absurdo que possa parecer. Então eu tenho de ter coragem, porque o jogo está ficando mais perigoso a cada rodada, não há tempo para mesmos erros, mesmas frustações. Desolação aquela já conhecida, ainda que hajam muitas mudanças, as coisas que não evoluíram, e sim sofreram revés, ah, isso tudo atordoa, corta, descompassa a hora do anoitecer, ri friamente da minha fraqueza. Por que, nesse mundo, é tão difícil fazer com que aquilo se deseja, mais cria, mais se sente, seja fidedigno à nós, depois de tanta água rolada em vão? Das tantas lutas e buscas, indo cada vez mais fundo do beco negro, até quando? ATÉ QUANDO?
Então agora a menina bate na porta dos fundos, e com uma sensação de conforto, vou abrir, rever minha amiga. Nas nossas tão simples palavras, indagando, meio que muda, a ela (ou quem sabe a mim) onde está nossa felicidade?