Para ti que és Mulher
Mulher! Eu quero fugir à palavra mil vezes dita, à frase feita, àquela que todos usam e pela qual falam de si, dos seus sentires, às vezes ocultos no mais recôndito de nós. Mas por muito que queira fugir à palavra dita, não me é fácil inovar, fazer coisa minha, sobretudo no instante em que mais capaz me sinto para o fazer. Por muito que me esforce, aquilo que me surge em termos de palavras foi já dito ou pensado. Mas o que acontece e o que me importa nesta hora é o que eu diga ou pense, sobretudo o que sinta. Que me importa o que os outros tenham dito, pensado ou sentido? Eu só quero nesta hora, neste instante que quereria eterno dizer-te que te quero no limite do querer. Falar-te da força do sangue que invade os oráculos deste pobre coração – naquilo que foi mas já não é - , do quanto nessa mesma onda falam as veras da minha alma. Procuro e rebusco, quero encontrar mas apenas sinto, mas se sinto é isso o que me importa. Quero dizer por metáfora trazida até mim pelos caminhos da natureza e pelas rotas das estrelas, que não há lírios nos campos, não há urzes na montanha, não há ondas marinhas, nem cerros nevados que traduzam esse sentir profundo que nesta hora me invade. Mulher! Essa palavra mágica que transborda no coração do homem e só ele entende.