Sentada sozinha à mesa de jantar, ela pensa como o tempo passa rápido e em determinadas circunstâncias é que acordamos para a vida. Ela está sozinha, sentada com o prato em sua frente, mas não quer comer nada, brinca com a comida. Só isso que quer fazer no momento: brincar com a comida.
Seus filhos agora já crescidos preferem fazer alguma coisa na hora do jantar, ou seja, sair, terminar um trabalho para escola e outras coisas que fazem em seus quartos que são impedidos de jantarem com sua mãe.
Seu marido avisou que chegaria tarde. Coisas do trabalho.
Está sozinha à mesa mas não está só na casa. Não tem importância, tantas vezes fez questão de dizer que gostaria de ficar só e só está.
Sentada à mesa lembra do tempo de criança em casa de seus avós. Seu avó, um pouco carrancudo, não admitia que se sentasse à mesa sem lavar as mãos, deixar comida no prato e levantar antes dele.
“Era dureza ficar sentada olhando para o prato enquanto meu avô comia calmamente. Nossos corpos agitados para sair correndo atrás de alguma brincadeira enquanto ainda tinha um pouquinho de claridade, mas não dava. Meu avô nos impedia. Não precisava falar. A sua presença era um grito que nos assustava.”
Ela lembrava desses momentos e fica pensado porque não agiu assim com seus filhos. “Por que não sou um pouco mais rigorosa, por que não exijo que estejam presentes?” Essa pergunta é fácil de responder: porque ela não gosta de amarras e qual seria o sentido de exigir alguma coisa de alguém?
Sua ânsia pela liberdade de pensamento, de viver, de sentir, de falar a tornam exemplo, e como exemplo tem que acatar as decisões alheias. Afinal não é a rebelde? A que gosta de transgredir as regras sociais? A antissocial?Fica agora sozinha com seus pensamentos diante do prato cuja comida esfria.
Esfria a comida, esfria seu coração, fraqueja a sua alma.
Sentada sozinha à mesa de jantar, ela pensa como o tempo passa rápido e em determinadas circunstâncias é que acordamos para a vida.