No Amazonas vivia o coronel Raimundo em tempos que já lá vão, e era um dos mais ricos latifundiários e roceiros do Brasil.
Suas terras estendiam-se ao longo de mais de mil hectares e estavam primorosamente cuidadas. Um dia recebeu a visita do Bispo da diocese e convidou-o a admirar o império que tinha conseguido com seu esforço, engenho, arte e muita força de vontade…
Foi iniciada a visita pelos pomares dos citrinos onde floresciam as laranjeiras os limoeiros e as tangerineiras…Dom Jerónimo, bispo, espantou-se com a beleza da fruta, a harmonia da paisagem, o contraste das cores e exclamou:
-Vê-se bem que Deus trabalha consigo…
Seguiram-se os campos dos cereais, numa enorme extensão de verdura, onde o vento deixava ondas que faziam lembrar o mar distante…As espigas iam-se enchendo pouco a pouco, e adivinhava-se uma boa ceifa que por certo, iria encher os celeiros do Coronel, primeiro, e fazer crescer a sua conta bancária, depois…
O bispo voltou a emocionar-se com tudo quanto a vista alcançava e repetiu:
-Vê-se bem que Deus trabalha consigo…
Mas o melhor ainda estava para vir: a secção da agropecuária onde viviam e cresciam em perfeita harmonia várias espécies de animais; claro que só criava herbívoros…os únicos carnívoros admitidos eram os galgos que exibia em feiras, exposições ou competições que sempre ganhavam.
Da vacaria saíam centenas de litros de leite…e os bezerros que iam engrossando as manadas de bovinos, apareciam todos os anos no fim da gestação das vaquinhas… e era um gosto ver com que desvelo as “mães vacas” lambiam suas crias e as incentivavam a mamar em seus úberes cheios de leite.
O mesmo se passava com as ovelhas, as cabras e as “aves de capoeira”
Mas perante todas estas bem sucedidas atividades dom Jerónimo abria os braços num gesto amplo e só dizia:
“Vê-se bem que Deus trabalha consigo” e o coronel Raimundo zangou-se…
Encarou bem de frente o seu ilustre visitante e foi com rispidez que proferiu:
“-Pois….Em seu entender Deus trabalha comigo…
E eu não fiz nada?
Havia de ver o matagal que aqui crescia quando Deus trabalhava sozinho…”
jmota
José Mota