Olhos nos Olhos
Estranha sensação de olhar-se!
Fixar profundamente os olhos nos próprios olhos;
Deixar que o olhar entre, viaje,
Busque essa massa de que sou feita agora.
Um frio me dói... Um frio por dentro,
Esse susto de ver no meu olhar,
Tanto, tudo do que vivi!
Essas marcas que não se apagam,
A distância imensa dos caminhos,
Dos descaminhos percorridos,
Corridos, desviados.
Quanto de mim ficou pelos barrancos!
E nesse olhar que me gela os ossos,
Busco ainda, nesses ocos ecos,
Uma leveza, um toque,
Que me mostre que ainda vivo.
Que não sou apenas a sombra de mim:
A sombra que repete à luz do sol
Gestos robóticos,
Busco nesse olhar que me gela os ossos,
A luz, que possa repetir na noite,
A claridade dos sonhos,
Que a vida deixou pela estrada.