uma vez só, eu gostaria de destravar a tua palavra
para que ela jorrasse farta e eu,
na beira do riacho que elas formassem,
visse passar de todos os cardumes,
dos mais delicados peixes coloridos do aquario,
que até se parecem enfeites de natal,
às abissais criaturas do mais fundo fundo,
que nunca se revelam ao claro,
em sua aparencia bizarra,
olhos quase inexistentes, barbatanas e tentáculos
e a cor escura de quem nunca recebe a luz.
Prometer-te-ia total descrição,
como a de um pastor que zela por seus bichinhos
e não lhes reprende travessuras ou,
a do sisudo psicanalista,
que tudo acompanha, sem a nada reparar.
Mas, uma só vez, uma vez só, queria ver-te,
desnudando-se, numa revelação sem mêdos,
para conferir, se guardas em ti
nessas aguas, em conluio com os peixes,
com os mais belos e com os mais feios,
uma joia que um dia, em ti perdi,
e nunca mais consegui alcançar.
Em todos os teus olhares, em todas as tuas poucas palavras,
tanto tempo há se passado,
que as vezes imagino vê-a brilhar,
sem que em ti, nada o possa me confirmar.