MISTÉRIOS DA VIDA
BASEADO EM FATOS REAIS
Juvenal morava em Cordeiro, uma cidade do interior do Estado Rio de Janeiro e naquele ano de 1938 completaria Vinte seis anos de idade. Juvenal, apesar da pouca idade era sargento da Polícia Militar, porquanto do seu melhor grau de escolaridade e fora requisitado pelo delegado junto com outro Policial, o cabo Moacir (42), para transferirem um preso da cidade de Cordeiro para a Delegacia de Canta Galo, localizada a vários quilômetros de distância uma da outra.
O preso que deveria ser transferido era um cabra que havia aparecido por aquelas bandas não mais que três meses e já era conhecido como o sujeito mais perigoso da região, pois, teria assassinado a socos, ponta pés e facadas, dois homens numa briga no bar do Zezinho.
O cabo Moacir policial experiente traçou com Juvenal, que nem tanta experiência tinha, o trajeto que fariam naquela incumbência. Na época os presos eram transportados em lombo de burros ou a pé mesmo e nesse caso devido a fama do prisioneiro resolveram os policias que iriam transportá-lo a pé, amarrando com cordas fortes as mãos do valentão para traz. Uma outra corda tão forte quanto a primeira rodeava a cintura do prisioneiro e a outra ponta, amarrada no cinturão da túnica do sargento Juvenal.
Assim, deixaram a cidade de Cordeiro pegando uma trilha que os conduziriam de modo mais rápido até a outra cidade. Já se passavam das quinze horas e o cabo Moacir havia combinado que ao anoitecer, deveriam estar próximos da Fazenda do Sr. Antônio Ferreira e por lá, pediriam abrigo de modo a pernoitarem e seguirem para Canta Galo, logo pelo o amanhecer.
Seu Antônio já estava acostumado com essa rotina e sempre deixava no porão da casa grande, umas esteiras a servir de dormida aos policiais e outros viajantes.
Próximo das dezoito horas o sargento Juvenal, grita o nome do amigo fazendeiro solicitando pousada. O cabo Moacir amarrou com cordas duplas o corpo e os pés do assassino, comentando com o fazendeiro que se tratava de pessoa perigosa e depois de bem amarrado, seguiram os três de modo se refrescarem e filarem a janta do amigo fazendeiro.
Bem mais tarde lá pelas vinte e uma horas, retornam ao porão, o sargento e o cabo sendo que esse último, levava em suas mãos um prato de comida que o preso deveria se virar para comer de mãos amarradas.
O sargento Juvenal, amarra o outro lado da corda em seu cinturão de modo perceber qualquer tentativa de fuga do prisioneiro, exaustos, logo se põem a dormir. Não havia se passado mais que vinte minutos, quando Juvenal sente a corda se movimentar em seu cinturão, assustado, acorda imaginando que o prisioneiro tivesse fugido, mas, ao olhar para frente, percebe que o valentão dormia roncando feito porca.
O sargento então sem entender, acorda o cabo relatando o fato, Moacir escuta tudo meio que ainda dormindo e diz para o sargento:
__ Dorme aí Juvenal, não vê que o homem ta dormindo?
A partir daquele instante Juvenal não consegue mais pregar os olhos e naquele estado de dorme não dorme, escuta uma corrente arrastando no chão vindo em sua direção e quando passa frente a ele, sente novamente o mesmo balançar da corda.
Juvenal com os olhos arregalados volta a chamar pelo Cabo.
__ Moacir, acorda Moacir tem alguma coisa estranha aqui.
__ Que foi agora Sargento?
__ Estou ouvido o arrastar de correntes e foi uma delas que balançou a corda esticada até o prisioneiro.
__ Deixa disso Juvenal, isso é coisa da sua imaginação, reza um pai nosso, vira pro lado e vê se dorme que amanhã tem é chão pra andar, voltando a dormir.
O sargento até rezou o pai nosso, fazendo três vezes o sinal da cruz, mas dormir, não conseguia de jeito algum. Logo, gritos de lamentos e choros foram ouvidos nitidamente e agora nem precisou que o sargento acordasse o cabo, pois, os ruídos estavam tão presentes que acordaram o cabo e o prisioneiro ao mesmo tempo.
__ Que foi isso, pergunta o cabo?
__ Não tinha te avisado, escuta as correntes arrastando
__ Meu Deus! Não é que estão arrastando mesmo
__ Pois então, Sargento o que faremos?
Apavorado, o prisioneiro se manifesta pela primeira vez em toda viajem
para dizer:
__ Sargento, estão me puxando pelas pernas, vamos embora daqui homem, que não estou gostando nem um pouquinho disto.
Enquanto falava, ouvem-se mais gritos... Eram gritos sofridos que ecoavam por todo o porão, entre os gritos podia se ouvir o balburdiar de palavras... Foi ele... Foi ele... O sargento olha para o cabo, que já estava se levantando e decidem que qualquer outra opção seria melhor do que permanecer naquele lugar apavorante e partem sem ao menos agradecer ao Sr. Antônio, pela acolhida.