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não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
sossego. as mãos nos ouvidos tamponam a vida que me chega em tormento – novos adamastores – já não suporto mais a falta de esperança de um povo que um dia passou além da taprobana – e é nesta república. nesta amálgama ocidental praia lusitana. que um dia nos vestiram o futuro com as nobres cores da esperança-futuro e coragem-sangue – aldrabões. impostores. intrujões. trapaceiros. vampiros. que fizestes à espada de d. afonso henriques? que fizestes ao pinhal de d. dinis. que fizestes às naus de d. joão II.? e do fontismo o que resta? sangue. é tudo o que sobra da nossa bandeira. sangue-dor. sangue-desilusão. sangue-fome. sangue-desespero. sangue-desemprego – não há verde. do escudo só as chagas de cristo estão ressuscitadas – mas somos povo. nobre povo. nação valente. imortal. corajosamente continuamos a marchar contra os canhões – camões por quem perdeste um olho?
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Lembranças, que lembrais meu bem passado
Lembranças, que lembrais meu bem passado,
Pera que sinta mais o mal presente,
Deixai-me, se quereis, viver contente,
Não me deixeis morrer em tal estado.
Mas se também de tudo está ordenado
Viver, como se vê, tão descontente,
Venha, se vier, o bem por acidente,
E dê a morte fim a meu cuidado.
Que muito melhor é perder a vida,
Perdendo-se as lembranças da memória,
Pois fazem tanto dano ao pensamento.
Assim que nada perde quem perdida
A esperança traz de sua glória,
Se esta vida há-de ser sempre em tormento.
Luís Vaz de Camões