Poemas : 

Incompreensão

 
Não entendo concerteza a exactidão
nem tão pouco a semelhança;
um centímetro a mais que um milímetro
a menos de algo tão diferente como
as cores de um arco-íris.

A destreza de um canhoto de uma carta,
o percurso de uma estrada curta sem curvas
que liga uma sala a um quarto de litro de leite
Vigor. A letra do absurdo e inacessível trecho de
uma prosa longa e viva.

O suspiro, que parece ser a inspiração profunda
e satisfeita de um transeunte que se regala
presenciando o amanhecer de um dia comum.

Não entendo as formas como elas são,
porque são tantas e tão diferentes.
Assim como são tão parecidas como fotocópias,
com os mesmos jeitos, volumes, medidas, almas…

A precipitação de açúcar no meu café do almoço,
o brilho luxuriante do pastel de nata
que como, logo a seguir.

Nem compreendo o negativismo
com que grande parte das pessoas que eu conheço
encaram a própria vida e a das outras.

O sorriso enorme de quem ouve as palavras certas,
nos momentos menos apropriados.

O brilho das calçadas perfeitamente gastas…

Não entendo o pormenor e o detalhe,
mas também não poderia viver sem eles.
A simplicidade, a complexidade, a tristeza da felicidade
e tantas outras coisas com idade;
Advérbios de estado, como modo de ganhar
e perder a perfeição do momento inacabado
de um segundo.

O marco do correio, a marca da camisola,
os problemas insolúveis pelos génios da ciência
moderna. Aquários e dragões,
postos de alta patente, carros de elevada potência,
caracóis, cabos rasos, cordas finas, carinhos…

Algures nesta gestação haverá uma borboleta?
Não entendo o poder de um parágrafo
que estimula, aborrece e que depois se esquece.

Arvoredos sem energia, esgotados, sem alegria;
rotinas acíclicas rodeadas de intermináveis rituais,
monólogos, pensamentos, meditações, encontros,
ouvir anjos ditando sinas, futuros, autismos.

Páro para raciocinar sobre o brilho das estrelas,
se não será o oposto de uma campa.

Avio um olhar para um cliente;
ofereço uma vida inteira de dedicação à minha prole
e espero que nenhuma tumorização a faça à minha semelhança…

Acerto as minhas contas com o destino e faço novo contrato.
Não há toque que se pareça com um intra-uterino...
Há coisas que eu não entendo…




Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
Tânia Mara Camargo
Publicado: 06/11/2007 17:50  Atualizado: 06/11/2007 17:50
Colaborador
Usuário desde: 11/09/2007
Localidade:
Mensagens: 4246
 Re: Incompreensão
Tantas coisas movem o mundo, tantas marcas, marcas na gente, mas uma coisa é certa, os detalhes, estes
tens razão, não podes viver sem ele, detalhe significa natureza, a obra perfeita advinda das mãos de Deus, e tu como pensador, não deixa escapar um só detalhe, gostei muito de teu poetar!