A gravidez fora complicada. Já na primeira semana de gestação os enjoos provocavam escarradas horripilantes, o entojo impunha uma dieta implacável, donde farinha e pimenta eram as delícias das refeições.
Com dois meses no ventre materno, fora identificado como do sexo masculino, era um moleque e, de fato um moleque. O médico que realizara a ultrassonografia jurava ter visto aquele "serzinho" lança-lhe uma "banana" com o dedo médio bastante esticado, o velho obstetra, já cansado de tantas consultas ao longo de seus 40 anos de carreira, pensou está tendo visões mirabolantes, aposentou-se logo em seguida.
E a gestação prosseguia. No decorrer do terceiro, quarto e quinto mês, aquele ventre fora abalado inúmeras vezes por "agressões" físicas internas veementes, os chutes geravam protuberâncias naquela barriga nunca antes vistas, por vezes o pé daquele rebento apoiava-se sobre a bexiga provocando vontades incontroláveis de deixar sair o excrementício segregado pelos rins e, em certa ocasião a urina desceu entre as penas daquela pobre mãe.
No sexto mês a dieta muda. O moleque senti tantas vontades que a mãe engorda 1kg por dia, também pudera: chocolates, sanduíches, batatas fritas, bifes..., coisas de moleque, entretanto nada superou o dia em que a chuva resolveu cair gerando aquele cheirinho de terra molhada, não deu outra, o moleque obrigou a mãe a comer terra e àquela divina mulher assim o fez com prazer e satisfação.
No sétimo mês, tudo que acontecera anteriormente fora nesse período aumentado de maneira exponencial, a pobre mãe já não aguentava-se com as peripécias de seu rebento.
Chega o oitavo mês, a mãe jura ouvir o moleque gargalhar dentro da barriga, não aguenta ouvir uma piada, sobretudo aquelas que falam de mulheres que, segundo a mãe, solta-lhe o rebento uma gargalhada daquelas. Os dias passam e o final da gestação se aproxima. A cesariana é marcada.
E as 14:00h daquela quinta feira estariam a heroica mãe à sala de cirurgia para dar a luz ao seu rebento mais que travesso, entretanto e, como haveria de ser, o moleque vira-se revira-se dentro do ventre encaixando-se perfeitamente e sutilmente e, às 13:00h começam as contrações. Já estando no hospital encaminha-se à sala de partos, haveria de ser um parto normal, cancela-se a cesariana, afinal o moleque prefere o método natural.
A acompanhar toda a situação está a equipe da Drª Verônica, uma linda mulher, cujo rosto carrega duas bolinhas azuis que chamam de olhos, mas de tão azuis poderiam ser dois céus. A jovem de trinta anos já carrega consigo a experiência de muitos partos.
Foi rápido, foi muito rápido, quando todos acreditavam começar de fato o trabalho de parto o moleque já "vinha vindo". A Drª o pega pelas perninhas e olha-o fixamente, todos param, o silêncio predomina, afinal aquele bebê não chorara como a grande maioria faz, espantam-se todos; e os olhos azuis parecem mais azuis. O moleque travesso, lança uma gargalhada maléfica, similar às das bruxas de desenho animado, nesse sorriso assombroso mostra uma boca cheia de dentes. A Drª assustada com aquela arcada completa esbugalha de maneira encantadora os lindos olhos, o moleque, safado que é, fixa-se olho no olho com a Drª e, quando menos esperam ele começa:
- "Nossa! Nossa! Assim você me mata, ai se eu te pego, ai, ai se te pego. Delícia! Delícia! Assim você me mata, ai se eu te pego, ai, ai se eu te pego"!