Contos : 

O Nobre Pastor

 
Todos os dias a mesma rotina: depois de um dia intenso de trabalho, o Nobre Pastor retorna a sua morada, uma casa simples, telhado dividido entre as palhas e outras coberturas, parede de taipa, chão de terra batida prenssado por inúmeros e inúmeros "xotes xoteados" em noites de festas e algazarras, entretanto o dia relatado trata-se da normalidade rotineira, onde os cantos dos grilos, as "gargalhadas" das corujas, e os movimentos quase imperceptíveis de artrópodes incontáveis são as companhias do Nobre Pastor, no mais, solidão é sua fiel companheira, ou não?
Adentra a casa, que fora encontra-se rodeada de ervas daninhas, caminha lentamente pelo corredor que permite visualizar o pequeno quarto, onde, desde o amanhecer encontra-se um lençol azul esparramado sobre o colchão, na verdade o enxerto de capim em trapos velhos ao qual sob está uma cama de madeira de lei envelhecida; na cozinha encontra-se uma panela sobre o fogão a lenha e dentro da mesma, grãos de feijão machucados que logo serão misturados à farinha e juntos constituirão o banquete daquela noite funesta. Após saciar a fome, o Nobre Pastor, cumpri a rigor o ritual de alimentar seus mais fiéis amigos. Senta calmamente em seu banquinho cinza enquanto de maneira sútil e delicada alimenta um a um seus companheiros de sangue, na verdade, o Nobre Pastor observa os amigos alimentarem-se e na medida do possível contribui para que todos sintam-se saciados e, de fato, a saciedade chega a todos. Faltava o afago aos amigos fiéis, para isso, era preciso banhar-se. O Nobre Pastor dirige-se ao quintal onde a dorna encontra-se meio cheia ou meio vazia, depende do ponto de vista, escuta-se o "timbugo" do balde preto tocando a água, enche-se uma bacia com fundo de madeira e então o banho ocorre. Banha-se completamente de maneira rápida, entretanto o cuidado com pés são fundamentais e nesta região do corpo passa o Nobre Pastor mais de trinta minutos acariciando cuidadosamente entre os dedos em prenúncio dos afagos vindouros. Findado o banho começa a real seção de afagos.
São cinco os fiéis companheiros do solitário da casinha de taipa, carinhosamente a mão grossa e calejada atinge cada um dos pequenos, o senhor daquela razão, observando calmamente seus pés limpinhos contempla a felicidade daqueles pequenos seres alimentados e afagados, afinal não consegue-se encontrar nenhum outro humano que mantivesse em seus pés cinco Tungas penetrans (bicho de pé) e cuidasse carinhosamente desses seres nefastos.

 
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Sóstenes10
 
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Enviado por Tópico
varenka
Publicado: 22/02/2012 15:12  Atualizado: 22/02/2012 15:12
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Mensagens: 4210
 Re: O Nobre Pastor
Um texto bem construído,mas o final triste.Gostei de ler,Bjs