O sinistro quarto dos fundos.
Estávamos nas férias do carnaval, uma semana que maravilha, este ano seria bem diferente, longe das confusões e do barulho e os meus primos íamos passar a quinta da tia Mariazinha. Um belo solar antigo com mais de trezentos e oitenta anos e muito bem conservado.
Tinha uma escadaria oponente, pedra trabalhada para uma sala de entrada, do lado esquerdo ou escada mais rudimentar, para os empregados acessar, jardins bonitos, arvores bem tratadas e as vinhas de vinho, eram a alegria da casa.
Todos já estávamos instalados em vários quartos, rapazes em três quartos e as meninas em dois grandes quartos que mais pareciam salas, mas existia um quarto, que eu recusei dormir.
Lembro-me que caminhava pelo corredor, em cada passo parecia ser seguida, a madeira rangia e os quadro, aqueles quadros horripilantes, velhos e mal encarados e tinha uma velha de bigode que mais parecia uma bruxa, dizima que era avó do Conde, ma que ela era feia que nem um bicho ela era sim. Pensei com os meus botões, onde seria a casa de banho mais perto, era longe e teria que passar aquele cruel corredor com as fotos dos mortos mal encarados.
Estava cansada, a noite desceu rápido, logo arranjamos afazeres, pintar unhas, fazer fofoca de namorados, falar da escola e das futilidades de adolescentes. Uma prima me chamou e tive que entrar naquele quarto, ele causava arrepios, tudo era sinistro mesmo de dia, cheio de bonecas de porcelana, palhaços e outros brinquedos antigos, eram as bonecas que mais metia medo. Elas saíram e pediram que eu ficasse ali, mas querem saber eu sai a correr, sem olhar para trás. Tinha uma porta que nunca abri segundo diziam era uma porta especial, a porta para a capela da família, mas ficava como uma varanda com acesso privativo para assistir a missa sem se misturar com os empregados.
Os ditos privilégios dos ricos elas desataram a rir muito eu não estava compreendendo nada, mas estavam aprontar das delas fazendo fuxicos.
Logo iria descobrir e da pior maneira, todos foram para seu quartos jogar as cartas e claro aprontar algumas partidas durante o dia, elas conheciam os cantos da casa e nós não e nem os meus primos da cidade de Lisboa. Era a pior desvantagem, mas elas estavam certas de nos dar a desforra, pois também aprontávamos com elas e muito nos nossos territórios. Logo desviei atenção daquela porta, mas no jogo elas jogaram uma aposta pesada, quem perdesse ficaria fechado detrás daquela porta uma hora.
Eu entrei em pânico, não acreditava que eles aceitaram uma coisa dessas. Alguém bate na porta, eram umas bolachas e um leite quente que iria ajudar pela noite fora, agradecemos e minha tia saiu pela porta fora nos deixando a vontade, entre gritos de histerismo elas ganharam o final do jogo, rindo maliciosamente, sabiam que estava tremendo de medo e já gaguejando até, foram abrir a porta da capela.
No momento da abertura da porta, parecia um portal de terror, o frio invadiu todo o meu corpo, o cheiro a mofo, a velho e as sombras pareciam bailar por nossos rostos. Tudo estava velho, madeiras podres, os bancos caídos, apenas o altar estava intato e conservado, elas riam, riam tanto que eu tive vontade de dar um par de estalos bem assentes naquelas caras de suínas.
Deixaram velas e fósforos, para não ficarem na escuridão total, meus primos estavam achando piada a tudo, mas eu sabia que ia acabar mal, eu sentia isso apenas olhando para aquele lugar, logo ficamos fechados, eu e minha prima mais nova que também era vitima delas estávamos muito assustadas que ela começou a ter ataques de pânico, mas elas nem por vê-la gritar abriam a porta. De repente algo passa rente pela cabeça, sinto uma picada estranha e sinto algo quente a escorrer na cara, meus primos levam a vela ao meu rosto e era sangue.
Os gritos começaram e o terror também, por saltarem algo começou a estremecer, a varanda cedeu e caiu mesmo ao lado do altar, nós também machucados, mas minha prima não falava e nem se mexia, estávamos sem saber o que fazer, entre gritos e desespero, o meu primo pegou num candeeiro de ferro e batemos na porta grande, mas ninguém nos escutava. Ali não tinha ninguém nem viva alma, começamos a escutar coisas estranhas, ficávamos em silencio para ver se era alguém para vir nos ajudar, mas não era não. Do chão abriu-se uma cratera, víamos fogo saindo de lá era tenebroso mesmo, as vozes nossas sumiram, nossas pernas ficaram bambas, o medo quase nos sufocava, vimos um padre saindo de lá, zangado, furioso, querendo fazer justiça e querendo nos levar com ele.
Abriram mais tumbas no chão e delas saíram mais corpos decompostos e batinas vermelhas e padres horrendos, parecia algo do outro mundo, meu primo correu para porta da entrada mas aquele fantasma foi atrás dele, já estava o levando mas lembrei-me da prenda da minha tia quando fiz quinze anos e das suas palavras, quando estiveres em apuros usa isto e tua fé e nada te poderá tocar.
Corri e fiquei a frente do meu primo, usei a medalha e a cruz, o padre afastou-se, todos gemiam algo terrível que ali teria acontecido, elas abriram a porta e caíram na cratera do fogo , todos foram para dentro dela e magicamente ela se fechou. Nisto escutamos vozes estavam abrindo a porta da capela e o horror foi total, a confusão estava demais.
Carros da policia ambulâncias e outras coisa mais, ninguém entendeu nada de nada nem nós sabíamos o que tinha acontecido realmente.
Nunca ninguém descobriu os corpos, policia e os outros ajudantes mais desenterraram
Todas aquelas áreas apareceram muitos cadáveres, mas elas nunca mais ninguém as viu...
Dizem os mais velhos que elas gritam de noite pedindo ajuda mas que os ouvidos humanos não as escutam...
Betimartins
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