Tudo parece-me igual ao que era ontem mas a estrela que me foi entregue tornou tudo diferente, já não consigo olhar para as pessoas e ver o que via pois passei a ter acesso a algo que não sabia que existia, afinal eram essas as regras do jogo e eu na minha santa ignorância estava sob teste, vejo agora e entendo porque os meus trilhos vieram-me trazer exactamente a este ponto, exactamente a este local, olho para os lados, olho para o relógio para confirmar que cheguei a hora certa, não, claro que não, como tudo que acontece de importante na minha vida cheguei 15 minutos antes, mera curiosidade de quem gosta de sentir o ar antes do encontro.
A minha volta observo as pessoas a passarem, os barulhos, vejo alguém se aproximar e sem qualquer cumprimento, com uma voz segura como se conhecesse-me a muito tempo, um senhor, de meia idade, chama-me pelo nome e entrega-me uma pen-drive, olho-o nos olhos, ele, com o rosto sério diz-me que tenho no suporte de informação tudo que eu preciso saber, despede-se com um até logo.
Sinto uma inquietação, o desejo de entender melhor o que está a se passar faz-me ir ao primeiro computador que encontro disponível e encontro a ficha de três pessoas que entrarão em contacto comigo, mas algo me assusta, uma delas é a gestora da minha conta bancária, desligo o computador e resolvo ir dar um passeio a pé pela cidade de forma a digerir melhor a informação, começo a fazer uma retrospectiva para tentar entender o que poderia ter feito para a Organização ficar interessada em mim, não encontro uma resposta e vou ao encontro de uma estátua que está num jardim que a muito tempo não é renovado, sinto-me seguro nesse jardim, então reparo em algo novo, não que fosse novo, era novo para mim por nunca ter reparado antes, estava escrito numa pedra: - Um lugar tem de se tornar uma paisagem interior para que a imaginação comece a habitar esse lugar e fazer dele seu teatro.
Uma mão toca-me no ombro, viro o rosto e vejo uma rapariga com cerca de 25 anos.
-Olá – Diz-me ela.
O rosto dela não me parecia estranho, era tão jovem, tão fresca, por meu lado estava muito distante em meus pensamentos para sentir uma atracção a primeira vista mas sei que senti algo, os segundos depois desse cumprimento parecem eternos em mim, foi difícil voltar para terra, mas ela prosseguiu:
- Não me conhece?
- Teu rosto não me é estranho. – Respondi.
- Claro, venho sempre cá. O que está escrito nessa pedra faz-me pensar.
Sorri, afinal era o que eu estava a fazer, estava a pensar e a tentar reconstruir minha realidade que estava perdida desde a hora que a estrela que tinha desejado tanto tinha sido me entregue, ela sorriu-me e com um sentimento de leveza que não é normal em mim convidei-lhe para ir tomar um café, não que me apetecesse um café, pura e simplesmente por não ter ninguém com quem partilhar esse sentimento de solidão que me sufocava após ver que uma nova era estava a começar em mim, ela, tão bonita, com um sorriso engraçado colou-se a mim naquele dia que não pretendo me esquecer.
Re: Encontros
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