Nestes tempos tão sem cor
Vejo sonhos transparentes em todos os tons:
Pessoas ricas carentes de sangue,
Riquezas vazias sem nada a dizer,
Morrendo de frio e de fome de fome de fome de sei lá o quê.
Há vozes por todos os Cantos e em todos os Cantos:
Camões, Drummonds, Pessoas enchendo livrarias...
Fotos e mais fotos, espelhos e mais espelhos...
Mas os olhares são iguais aos dos meus avôs e avós;
Aos dos Gregos e Romanos.
Mudamos de casa
Mas levamos os mesmos móveis:
Somos imóveis,
Propriedades, privadas.
Que diferença faz?
Continuamos indiferentes ao tempo que faz dentro de nós.
Repetindo que após a Primavera vem a primavera,
Após o entardecer vem o Sol nascer,
No céu, nos Quadros do mundo.
Ouço minha respiração e sinto medo.
Amanhã não estarei mais aqui: afirmo.
E mesmo assim nem agora Eu Sou O Que Sou...
Permaneço indiferente a este momento,
Mesmo este momento sendo tudo que tenho e não tenho: insônia, fome, inquietação, agonia.
Atlântida... Pérsia... Grécia... Alemanha...
Que importa sabermos latim enquanto nossas vestes ainda vertem sangue?
Continuamos vertendo Werther pelas veias...
Sofremos com o Deus Ilusão, o Imortal.
Maya, Maya, Maya...
Tudo passa, inclusive esse poema.
– A mesma ladainha, o mesmo Mesmo há 7 mil anos... –
E minha única certeza é que nem dele lembrarei:
Certeza que estes versos sumirão como castelos de areia ou granito!
Apesar de tanto desespero, solidão e ter que guardar silêncio, bater continência, eu os escrevi:
De nada adiantou. Por que, meu Deus?
Tomara que Deus exista por trás dos espelhos,
E que embaixo da minha cama existam realmente monstros.
Duvido da dúvida, e isso é tudo.
Só sei que minha mãe tem os olhos mais lindos do mundo,
E que não sei nada além;
Sou um imbecil, me orgulho: meu único álibi.