É com pesar e com insatisfação
Que hoje venho aqui, até a ti,
Trazendo nas mãos meu coração.
Dê-me tuas mãos. Sentemos ali
Embaixo da antiga laranjeira
Onde em tempos de antanho
Passávamos a tarde inteira
Contemplando a natureza
Nos amando, nos amando...
Parecia-me que mais verde era
A relva do chão e os arvoredos.
Que as flores das ramas e ervas
Eram mais brancas e boninas,
Que o horizonte era mais vermelho
E que quando chegava a primavera,
Descerrando dos céus as cortinas,
Viam-se as violetas da Sibéria
O vale em papoulas da Índia
Em disputa desigual e ferina
Com os milhares de girassóis
Que circundavam lagoas argentinas
Nascidas das cascatas de águas prateadas
Que sussurravam sustenidos e bemóis.
Ali, onde o vento refrigerante em viagem,
Que lhe consome as forças e o ano inteiro,
Vinha balouçar em um balé bom e suave
As folhagens das samambaias e coqueiros,
Em redemoinhos pelas fartas ramagens,
Depois em toques divinos em teus cabelos,
Brincando com os novelos e cachos aloirados
Que caíam pelas omoplatas e pelo alvo colo
Encobrindo as aureolas rosadas dos níveos seios.
Agora, tanto tempo passado, nada resta.
Apenas vestígios de uma época de festa.
Apenas essas lembranças de antanho
Tecidas em titânicas e delgadas redes
Tais quais quadros em esquisitas paredes
Tatuadas num mundo mágico de sonhos...
Tatuadas num mundo mágico de sonhos...
Tatuadas num mundo mágico de sonhos...
Gyl Ferrys