Não sinto nenhuma vontade de ser feliz,
Apenas me apetece…
Beber a água pura e fresca em todas as fontes,
Correr entre as veredas dos campos pintalgados de papoilas,
Colher figos nas figueiras caladas da beira dos caminhos,
Subir à serra e, de lá, gritar à planície uma pilhéria sem malícia,
Sentar-me à beira dum rio pachorrento e dormitar ao som do coaxar das rãs,
Jogar à bola, saltar à corda, desenhar no chão um sol sem luz,
Entrar numa igreja, sentir o fresco dos ladrilhos, mergulhar no silêncio e falar com Deus,
Cantar as melodias, sem pauta ou mestre, que o momento me inspirar,
Olhar o longe e o desconhecido e agradecer a beleza de o poder sentir,
Ouvir os trinados entrecruzados dos pássaros que povoam os lugares
E aprender a assobiar os hinos que eles se afadigam em me ensinar,
Colher nas hortas as alfaces frescas e extasiar-me com o voo bailado duma borboleta,
Assistir ao trilho do sol, de nascente a poente, e abraçar com desvelo a lua que o rende,
Beijar o rosto das imagens e das vozes das memórias que vêm visitar-me e sorrir encantado e grato,
Descer ao encantamento de me sentir vivo e tomar ao colo uma criança órfã,
Fixar nos olhos os olhos de quantos não me dizem olá e amá-los mesmo assim,
Abeirar-me do mar, na praia deserta, e sentir o carinho da água gelada nos pés descalços,
Sentir o odor a pão fresco e perceber que ainda há mãos que operam milagres,
Ler um poema com palavras a escorrer dos poros das folhas de papel submisso
E perceber que é das sílabas meticulosas que nascem os momentos únicos, irrepetíveis,
Ser louco… Ser inteiramente louco! Mesmo quando a minha loucura me manda escrever
Vocábulos redondos e quadrados e oblongos, com expressões de espanto e alguns ditongos.
Apenas me apetece…
Acreditar que na liquidez das minhas lágrimas
Há um grito de amor a pedir que não me olhem com expressões de soslaio.
Que louco assim,
Este sou eu, em mim!
Em 02.dez.2011
PC
Escrever é uma forma de estar vivo!
Paulo César