AA LAGOA! LAGOA!
Anderson era casado e tinha uma linda filha de nome Ana, o mesmo nome da mãe dela, era jovem e dono de um sítio nas proximidades da cidade de Coronel Fabriciano, no Vale do Aço.
A renda da família era originaria de uma modesta lavoura, criação de porcos, aves e peixes, o que lhe permitia uma subsistência rendosa e digna.
Nos fundos da sua modesta casa havia uma lagoa de uns cem metros quadrados por uns três metros de profundidade e elevada em relação ao terreno circunvizinho, lá, colocara vários peixes para reprodução e venda no comércio da cidade.
Recentemente, havendo uma carência de chuvas regulares a lagoa ficara um pouco suja em razão da vazão motivada pela evaporação; Anderson colocara um longo cano de plástico de regular calibre no fundo da lagoa com a intenção de, no caso da água diminuir perigosamente para os peixes, ele esvaziá-la na quantidade necessária à entrada, com sobra, em sua superfície vinda de um regato acima dela e ao pé de uma serra ali perto.
A esposa lhe perguntara a razão de retirar a água se iria colocar água da serra na lagoa, com ele lhe respondendo:
Primeiro, para evitar que, enchendo, ela transborde levando os peixes e, segundo, a água saindo pelo cano ajudará na limpeza da lagoa já, que, a que vai entrar estará límpida.
Nunca precisou efetuar tal operação em razão do tempo ter melhorado e as chuvas retornarem ao normal e, no fundo da lagoa, ficou um tampão rosqueado e de plástico para futura necessidade do esvaziamento total ou parcial da lagoa.
Numa tarde, estando sozinho no seu sítio, motivado pelo fato da esposa e filha terem ido até a cidade visitar o pai dele por dois dias, recebeu a visita de um seu vizinho de nome Wenceslau que se fazia acompanhar de dois estranhos mal encarados e aparentando embriagues.
Anderson considerava Wenceslau um mau vizinho, ambicioso, preguiçoso viciado em bebidas alcoólicas e violento, entretanto, para evitar atrito com ele, ás vezes, o recebia em sua casa e com ele tomava umas "cachacinhas"
Dessa forma, tão logo recebeu Wenceslau e os seus dois acompanhantes, calou-se, ao ser apontado para ele três garruchas de grosso calibre e recebendo a informação de que queriam dinheiro e jóias.
Apesar de pouco ter estudado, Anderson era um autodidata, inteligente e lia todo o que lhe caia nas mãos, por isso, não reagiu e teve os seus bolsos devassados e retirados todo o dinheiro, enquanto o seu vizinho invadia a casa e apanhou todas as jóias e mais dinheiro.
Impassível! Anderson tentava achar uma forma de escapar com vida, pois, sabia, por intuição, que o seu vizinho teria que matá-lo para não ser por ele denunciado.
—Que remédio é esse? Perguntou Wenceslau, ostentado uma caixa na mão.
—É “Lopril D”, uso diariamente para um câncer que tenho no estômago e fígado e o escondo da minha família, mentiu Anderson.
—Você está condenado a morrer?
—Sim, e, se tivesse coragem de suicidar o faria reagindo ante a arma a mim apontada por vocês, porém, sendo covarde, tenho medo de, ao receber os tiros, não morrer de imediato.
—Nós vamos matá-lo pode acreditar!
—Os projetis os denunciarão, a policia rastreará as balas retiradas do meu corpo e chegará a quem as comprou.
Os três ficaram calados, com Anderson continuando:
Se for morrer baleado, deixe-me pular na lagoa e vocês, com umas vassouras, vão me empurrado para dentro da água até afogar-me. Um dia depois, Wenceslau poderá vir até aqui e localizar o meu corpo dentro da água, com isso, ficarão com os meus pertences e ainda receberão o agradecimento da minha família por ter descoberto o meu cadáver sem nenhum ferimento a não ser algum ocasionado por peixes tentando se alimentar com a minha carne.
A fala de Anderson convenceu o trio que, praticamente, jogou Anderson na lagoa, antes, colocando em seus bolsos algumas notas de pequeno valor por orientação do próprio Anderson para não levantar suspeita.
Tão loco caiu na água, Anderson veio à tona, tomou alguns toques de vassoura gritando para eles baterem devagar para não deixarem marcas suspeitas, dessa forma, subiu a tona por umas oito vezes e, a cada uma delas, fingindo estar afogando. Na última vez que apareceu na flor d’água, aspirou fundo e sofregamente e afundou para não mais ser visto pelos seus algozes.
Passados uns vinte minutos, Wenceslau e os seus comparsas foram embora rindo alto e fazendo comentários a respeito da facilidade do furto e do assassinato praticado, ajudado pela própria vítima.
Alguns minutos depois, ileso, Anderson chegou à tona, observou a ausência dos bandidos e, aproveitando-se da noite que chegara célere, entrou em casa trocou de roupa, fechou a casa e, pelas trilhas, foi direto para a casa do delegado na cidade, onde lhe contou o ocorrido alegando que Wenceslau deveria estar em sua casa a tomar mais cachaças com os seus asseclas e dividindo o seu dinheiro e jóias.
—A sua “istória” é interessante, no entanto, indo até o local e prendendo os três, como vou convencer ao Juiz de Direito da veracidade do que me contou, considerando que, você não teria condições humanas de ficar cerca de meia hora debaixo da água sem um equipamento apropriado?
Acontece, senhor delegado, que, após enganar os bandidos de que queria me suicidar e fingir que estava nas últimas quando recebi o último empurrão de vassoura, mergulhei diretamente para o tampão rosqueado no fundo da lagoa, o destampei e coloquei a boca e o nariz no local, passando a respirar pelo cano, que era bem longo e largo, assim, poderia lá ficar por horas com a pressão da água sendo amortecida pelos meus braços colocados sobre a minha cabeça.
Poucos minutos depois, o delegado com a sua equipe fora até a casa de Wenceslau e o prendeu com os seus dois acompanhantes e apreendeu todo o dinheiro e jóias de Anderson.
(aa.) S.A.Baracho.
conanbaracho@uol.com.br
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