Caminho entre as sepulturas,
entre os mortos e as cinzas,
lendo as lápides, vendo as datas,
nas inscrições góticas ou latinas,
nas pedras de granito fino,
e nos pesados mármores roídos,
observando os sérios semblantes
dos anjos alados apontando um caminho.
Caminho, pensando nas sombras
dos que aqui jazem,
nos que descansam e dormem
aqui e para sempre o sono eterno.
São ossadas apenas, ossos alvacentos
debaixo das grossas lápides gravadas,
reconhecendo a fragilidade da vida,
e a confiança na ressurreição da carne
após a expiação de todos os pecados.
Entre as sepulturas quedo-me a pensar
que um dia também não serei nada,
nada mais
do que carne podre roída por vermes,
vorazes e famélicos saprófagos
que irão consumir o meu corpo.
Nessa certeza, trago a incerteza, a dúvida,
se alguém passará pelas sepulturas
lendo os nomes e dizendo as datas
e falando sobre mim.
Não sei se alguém
lembrará que um dia
eu existi.
Mas não me importo com os outros,
que quero apenas,
eu peço apenas
uma lágrima dos seus olhos.
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."