São eles que passam
a caminho do campo santo.
Cabeças baixas,
e mãos cruzadas às costas,
algumas crispadas,
outras nervosas.
Vestes trajes escuros,
alguns levam flores,
outros, choram, consternados
deixando subirem aos céus,
os lamentos e soluços.
São eles que passam!
Em cada rosto,
está escrita uma tristeza,
um pesar,
ou mesmo uma indiferença,
ou simples curiosodade.
São eles que tocam
os sinos da capela
que soam sons tão tristes.
São eles que murmuram
soturnas orações,
que soam tão tristes,
monótonos cantochões,
lúgubres ladainhas.
A história é curta,
a mesma de sempre.
a mesma de todos.
Nascer, crescer, viver
e depois partir,
caminhar sem sentir os passos
e ver fechar-se atrás de si
a última das portas.
Olhem. São eles que voltam,
as mesmas cabeças baixas,
as mesmas mãos cruzadas,
Vestem os mesmos trajes negros,
mas já não trazem flores.
E não choram mais,
e não soluçam mais,
e não lamentam mais.
Ouçam! São os sinos que tocam,
são os sinos da capela,
que tocam a despedida.
São eles que voltam!
Em cada coração,
sob os trajes negros,
já há menos tristeza,
há menos pesar,
existe a mesma indiferença,
já há pouca curiosidade.
Foram eles que acompanharam
aquele que já partiu.
Procuraram deixar no túmulo,
um pouco do medo,
de um dia também partir,
de também caminhar,
sem sentir os passos,
de ver fecharem-se atrás de si
tão pesadas portas.
Olhem! São eles que voltam!
São eles que voltam
e o lento regresso
parece menos triste,
parece que no cemitério
ficou um pouco do medo
de um dia morrer também
ser acompanhado por eles,
eles que passam
a caminho do campo santo.
Cabeças baixas,
e mãos cruzadas às costas,
algumas crispadas,
outras nervosas.
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."