Um corte no dorso da mão,
um corte profundo,
na alma e no coração.
Tanto sangue vermelho caindo,
sangue ensopando a terra,
tingindo tudo o que existe.
Um corte profundo,
separou a alma do corpo.
E ela se foi. Fugiu
rumo ao infinito,
procurando a eternidade.
Ela saiu e foi pelo mundo,
foi conhecer lugares,
e aprender linguagens diferentes!
O corpo sem alma ficou,
e a alma se foi sem corpo,
sem corpo a alma ficou.
Todo o sangue correu
pelo corte aberto nas veias,
todo o sangue se foi,
esvaiu-se e perdeu-se no chão.
O corpo sem sangue e sem alma,
ainda vagueia pela terra,
procurando um lugar,
procurando um abrigo,
para ver passar o tempo e as eras.
A alma do corpo sem alma,
que já conheceu o mundo,
viu lugares diferentes,
novas paragens, paisagens,
novas gentes, outras linguagens,
um dia cansou-se de vagar pelo espaço
e procurara a eternidade.
O sangue do corpo sem sangue,
que caiu pelo chão,
e tingiu de vermelho,
todas as rosas brancas,
cansou de albescer flores,
e de ensopar a terra.
Mais alem,
o corpo sem sangue e sem alma,
que também vagava pelo mundo
procurando um abrigo,
procurando a luz,
cansou-se de sua peregrinação.
E no fim,
pelo mesmo corte na mão,
a alma, o sangue e o corpo,
tudo se funde e se confunde,
e torna-se um so.
Um só ser vagando pela terra,
procurando a eternidade,
um só ser, corpo, sangue e alma,
tingindo de vermelho
todas as rosas brancas
de todos os jardins desta terra.
Um só ser cansado,
extenuado da lida, da vida,
procurando a Luz,
procurando a Paz.
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."