O marulho
Desmaiava
Na areia,
As conchas
Contavam
Histórias
De marujos,
De maremotos,
De naufrágios...
No fundo,
Os recifes
Cobriam
De vida
O ferro
Oxidado
Das naus
Vencidas.
Em meio
A tudo
Isto,
Cardumes
Se reuniam
Cosmopolitamente,
Em posição
De defesa,
Como em estado
Beligerante
No iminente
Ataque.
Seus vítreos
Olhos
Passeava
Em redor,
Vindo à tona
As memórias cãs
De naus antigas,
Mastros empedernidos
E velas desfraldadas
Num mirar de horizonte
Desafiador
De pretensas
Eternidades
Que a imensidão
Marítima
Causava
Em cada homem.
O navio -
Palácio andante -
Singrava
Os mares,
Abrindo
Com sua quilha
Os caminhos
Dos segredos
Ultramarinos.
E arremessavam-se
Sonhos e mais sonhos
Sobre as ondas
Voando sobre o império
De Netuno.
E o tempo
A alternar
O fulgor solar
E o contubérnio noturno
Entre o céu e o mar.
As memórias,
Tal como sereias,
Ora amigas,
Ora antípodas,
Pululavam-lhe
No cérebro.
Fora, o vento
Cortava o ar
E a maresia
Salgava-lhe a pele.
Na areia,
A onda desmaiava
O marulho,
Apagando-lhe o nome
Da reminiscência
Volúvel da praia.
(Danclads Lins de Andrade).