«O que me espanta, é o facto de se viver sobretudo numa sociedade sem projecto, que se perpetua por velocidade adquirida. A sociedade tecnológica é uma sociedade cancerosa, como uma estrutura que se alimentaria de si própria. Acusamos os jovens de quererem destruir e de nada proporem. Seria preciso afirmar, inversamente, que é a sociedade que não tem projecto. Todo o seu projecto é o de continuar a mesma coisa, em particular, para a sociedade industrial. Esta não tem outra finalidade senão o seu próprio crescimento. A ideia de crescer 4 ou 5% todos os anos, logo de duplicar todos os 20 anos, não é um projecto. Isso faz igualmente parte do «niilismo». Uma tal sociedade vive do nada. O niilista não é aquele que fala do niilismo, é aquele que não fala dele, que não sabe o que está em causa no niilismo, que vive no nada.»
«Entrevista com Paul Ricoeur [sobre a crise da filosofia]». Publicada em: La philosophie d´aujourd´hui, Lausanne-Barcelone: Éditions Grammont-Salvat Editores, 1976 (Bibliothèque Laffont des grandes thèmes). (II.A.314a.)