Sob a luz da lua
a mulher nua
banha-se no sereno.
Murmura
palavras de magia
e, em sua fantasia,
flutua acima da terra.
Comprime as mãos
e enterra as unhas em sua palma
até sentir-se ferida
na carne e na alma.
Esse simbólico flagelo
derrete o gelo
de seu coração.
A mulher vestida de brisa
alisa seu próprio corpo
nesse ritual delirante
entrega-se
ao seu amante imaginário.
Quando cessa sua loucura
com espírito e corpo ferido
suas roupas rotas ela procura.
Veste-se e volta para o marido.
Não termina aqui sua história,
resta ainda um desesperado aceno,
liberta-se cheia de glórias
dando ao seu tirano
algumas gotas de veneno.
Assim, louca e descabelada
volta à lua e ao sereno
para sentir-se novamente amada
por seu amante não terreno.
Mauro Gouvêa
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