Não, não procuro o outro,
O outro é quem me procura,
Ele está bem aqui na esquina,
Na marquise da loja, no papelão enrolado.
O outro é alguém,
ou simplesmente é ninguém,
Poucos lhe dão um vintém,
Raros os que ouvem seu amém.
O outro é um espelho
Daquilo que não somos
Mas poderíamos ter sido
Se nos colocássemos no papel do outro.
Mas, porque falo tanto assim
Do outro, tem nome? será Serafim?
Mais difícil falar desse outro aqui
Defronte do monitor vendo o povo do Haiti
Aqui aportando, em Brasiléia,
Depois de entregarem tudo a um coiote,
Tem esperança de sair da miséria
E trazer a família e ter vida de gente.
Pois há uns outros que que somente
o que sabem é fazer críticas
Mas, não ficarão para semente
tampouco levarão suas tolas economias
Já estes, que nos pedem o cobertor,
o abrigo, o pão, um emprego
são os outros que querem tão pouco
porque não acolhê-los, ser um país protetor
Da dignidade humana,
Refugiado de guerra
Ou da exclusão social
Não importa, é uma questão moral.
Assim, quando ainda infelizmente me deparo
com comentários preconceituosos e depreciativos
daqueles que aqui sobrevivem ao sufoco
apenas digo, ponha-se no lugar deles...
Decerto, dificilmente conseguiria
passar pela triste rotina de cada dia,
Sem teto, sem chão, sem banheiro privativo
O que resta ao outro senão invadir o espaço
daqueles que lhe negam o direito a existência?
AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 22 de janeiro de 2012, sobre a existência do outro e a exclusão social de nossos dias.
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