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ESTAÇÃO DAS ÁGUAS

 
Sangra terra, teus vagidos resturgem
da tua boca lascada pela aridez pertinente
teus dezembros começam e se arrastam -
inclementes, beirando a dantesca dor.
Terra-máter, teu ventre emurchecido e talhado
não fertiliza a semente morbígera
acoitada pelo caboclo em rasa cova...

Branda terra - tua dor não é única – a irmã África
epilepticamente sente as mesmas contrações deste parto cíclico,
definhando na escassez d’água que beira a mor apertura.
Ó Nordeste - terra de Conselheiro, sobre teu solo fumegante
tantos filhos de trouxa e pote à cabeça varam léguas sem destino
e pela secura derribados dormem – profundamente – em teu campo santo.

Torrão abençoado, o teu cheiro enfermiço
não revela a vida engolfada nas tuas profundezas...
Benditas profundezas,
mesmo ciclicamente morta tens vida chão adentro.
Tens vida!
No teu calvário periódico, pátria de Tobias,
a procissão de pedintes arrasta as alpracatas sobre teu bojo,
infertilizado mometaneamente,
rumorejando as ladainhas a pedido de chuva (de vida).

Acoita terra,
as setas aquosas que do céu plúmbeo despencam
cravando em teu ventre o frutuário da vida...
Bebe – sufoca a tua sede pátria nortista,
lambuza-se – pois da enxovia do teu útero árido
a natureza eclode soberana e fecunda.


Jadson Simões

 
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JadsonSimoes
 
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