Entre nós
existe algo inexplicável
que ainda não entendemos
existe pelo menos uma pergunta
que não podemos fazer
que não devemos fazer
nem em pensamento um ao outro
(mas eu penso a cada momento)
eu prometo que jamais farei
mas nem num poema qualquer
nunca vou saber se a pergunta
é sentimento ou ilusão
para uma pergunta nunca feita
não há resposta pronta
Entre nós
o que existe ou deixa de existir
não importa neste momento
não somos nada
muito menos podemos ser
como a impossibilidade, presente
(mas eu sofro, muito)
Fora tudo isto
dois corações
muitas vezes batem como um só
ritmados, unidos, sem saber
batem perguntando-se
pelo menos dentro do peito
aquela que não devemos
aquela que não podemos
fazer
A resposta que não temos
pois se a vida nos une
numa ponta, num enlaçar
a vida nos separa
por uma longa ponte
chamada tempo, razão
pelo caminho cruzado
que não dominamos
e nos vai levando
quem sabe até outra ponta
porta para o nosso amanhã
que eu espero tanto
espero também
que a pergunta que não faço
não seja só minha
mas seja dela também
não só a pergunta
mas resposta conjunta
que é aquela que não necessita
de palavra nenhuma
basta colar sua boca a minha
senão descobrirei no final
que estou falando sozinho
e a pergunta que tanto fiz
vai morrer na minha boca
seca, sedenta da sua