O poeta com a mania,
anda tão alegre e obtuso,
que faz em tudo poesia,
até num simples parafuso.
O poeta com a depressão
encontra em si lamentos,
que até fica a lamentação
farta de tantos aumentos.
o poeta com a mania
é o poeta que graceja,
que crê, em si confia,
ninguém aleija...
O poeta com a depressão,
é o poeta que chora,
começa as frases com não,
vive o ontem, não o agora.
O poeta maniaco-depressivo
anda com a mania alerta,
com a depressão no activo
com a inspiração aberta...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.