Fome de amor flagelou-me o corpo
E me vi detrito de carniça para os urubus,
Meus sonhos envelheceram na inanição em que me pus
Diante de grotescos espinhos espetados num devaneio morto.
Meu sangue coagulou-se de podridão na sarjeta densa
E no aroma nefasto que pelo espaço se espalhou
Centenas de corvos desvendaram as malícias do meu amor
E na ampulheta da vida deixaram átomos de descrença.
Minha carne saciou dos abutres sua indigesta fome
E às panteras restaram fragmentos de ossos sem nome
Enquanto meus pelos vaguearam numa arena deserta guardando meu DNA...
Se numa enfermidade de vida fui jogado na solidão ao relento,
Meu espírito sentiu em angústia a amargura atroz do pensamento
Que pôde mergulhar incólume pela tempestade que agitava a água do mar!